Relatório Médico Inédito da Operação Prato e Entrevista Exclusiva com Militar que Participou da Missão

No final da década de 1970, principalmente nos anos de 1977 e 1978, algumas regiões do norte e nordeste brasileiro foram afetadas por um fenômeno de origem até hoje desconhecida, surgido quando habitantes de pequenas localidades presentes principalmente nos territórios dos estados do Maranhão e Pará, passaram a denunciar acontecimentos que envolviam a observação de objetos luminosos desconhecidos, que estariam se movimentando de maneira atípica através do céu noturno.

Em alguns casos, também se atribuía a esses, a responsabilidade por eventuais ataques contra essas populações. A Marinha brasileira foi a primeira instituição governamental que se prontificou a investigar o fenômeno como um todo (confira o artigo completo neste link).

O setor de inteligência (A2) do I Comando Aéreo Regional da Força Aérea Brasileira, sediado na cidade de Belém/PA, também já estava há algum tempo ciente da ocorrência de notícias envolvendo o aparecimento das tais “luzes”. Entretanto, uma providência mais efetiva só foi tomada a partir do dia 20 de outubro de 1977, quando, às 14H, uma viatura transportando militares da Aeronáutica se deslocou da cidade de Belém para o município de Santo Antônio do Tauá/PA, uma das localidades afetadas pelo fenômeno, dando assim início a célebre “Operação Prato”.

Considerando que um aspecto que sempre esteve intrinsecamente ligado ao fenômeno se tratou da condição médica das pessoas que haviam se tornado supostas vítimas do “aparelho” (um dos nomes dados pelas populações das áreas afetadas para o que consideravam se tratar de um objeto voador que emitia luzes capazes de lhes causar danos físicos), a avaliação dessas possíveis vítimas por alguém habilitado e capacitado para o exercício da atividade médica é algo de grande valor para a compreensão do fenômeno. Apesar deste ter afetado pessoas presentes ao longo de uma ampla extensão territorial, até o presente momento, as únicas informações mais precisas referentes ao estado clínico das supostas vítimas de ataques, foram divulgadas no decorrer das últimas décadas pela médica que na época prestava seus serviços junto a população do município de Colares/PA.

O envio de uma equipe médica da Aeronáutica para as localidades afetadas pelo fenômeno está registrado nos relatórios oficiais da Operação Prato já divulgados pelo governo brasileiro. Essa participação, que é a única realmente comprovada, ocorreu nos dias 26 e 27 de outubro de 1977.Considerando que esses mesmos relatórios carecem de informações mais detalhadas sobre a extensão das atividades e conclusões dessa equipe, houve a criação de algumas lacunas. Tais dúvidas não existem mais, tendo sido sanadas através do conteúdo deste artigo.

Abaixo, apresentamos o relatório inédito produzido pelos integrantes dessa missão médica, no qual registraram suas observações. A equipe do www.operacaoprato.com recebeu o presente conteúdo das mãos de uma fonte idônea e fidedigna que, por motivos pessoais, prefere se manter anônima.

O DOCUMENTO INÉDITO – “RELATÓRIO MÉDICO-PSIQUIATRA”

Nossa equipe localizou um dos médicos militares que, conforme o relatório acima, participou da Operação Prato. Nos dias atuais, o Tenente-Coronel Médico Dr. Pedro Ernesto Póvoa exerce funções administrativas no Hospital da Aeronáutica, em Belém. Na época da missão militar, ele já possuía especialização em psiquiatria e examinou algumas das supostas vítimas do fenômeno denominado “chupa-chupa”. O Dr. Póvoa nos recebeu e, apesar de ter estranhado que o assunto a ser tratado referia-se a fatos ocorridos há quase quatro décadas, foi bastante cortês e atencioso, onde aceitou nos conceder uma entrevista a fim de esclarecer nossas dúvidas.

Apresentamos logo abaixo o conteúdo integral da entrevista do Ten Cel Dr. Póvoa que nos foi concedida em 31 de maio de 2017:

Ten Cel Dr. Pedro Ernesto Póvoa

A ENTREVISTA

Qual a patente do senhor hoje? Quais as funções que o senhor ainda desempenha na Aeronáutica?

Eu sou Tenente-Coronel médico, da reserva. Hoje eu trabalho com administração de assuntos de saúde do COMAR. Só administração, não tenho mais atividade médica, até porque decidi me aposentar.

Na época da missão militar no interior do Pará (1977), qual era a função que o senhor desenvolvia na Aeronáutica?

Eu era tenente médico psiquiatra. Tinha acabado de ser transferido para Belém para trabalhar como psiquiatra no hospital (Hospital da Aeronáutica, em Belém).

Como o senhor tomou conhecimento do caso de aparecimento de luzes no céu e de pessoas sendo “atacadas” no interior do Pará?

Bom, na realidade eu tomei conhecimento disso pela imprensa. O que aconteceu foi que eu fui convocado pelo COMAR, que é o órgão central da Aeronáutica aqui em Belém. E o COMAR me convocou para que eu fosse como psiquiatra, junto com o médico de lá, que fossemos lá para investigar a veracidade disso. Foi assim que eu tomei conhecimento.

Qual foi o objetivo da equipe médica?

Avaliar a veracidade desses fatos, do que as pessoas sentiam. Dois médicos foram na missão (o próprio Dr. Póvoa e o Dr. Augusto Sérgio) junto com outros militares que foram investigar outras coisas da área de inteligência. Verificar o que era que estava acontecendo com as pessoas lá.

Quais as localidades que o senhor chegou a ir e quais as condições de saúde em que as pessoas viviam na época naquela região afetada?

Eu só me lembro de Colares, eu lembro que teve uma travessia em uma balsa¹, provavelmente alguma localidade de algum nome que eu não me lembro. Me chamou atenção que era um local na época sem luz elétrica, que as pessoas acendiam fogueiras na frente das casas. Bom, condições de saúde, eu não vi nada que me chamasse atenção, eram pessoas do interior do Brasil, enfim, não me lembro de ter verificado nenhuma situação de doença específica.

¹ Provavelmente se trata da travessia hidroviária por balsa entre Penhalonga (Vigia) e Colares.

Que equipamentos foram levados pela equipe para a missão?

Alguns medicamentos, estetoscópio e aparelho de pressão.

Quantas pessoas o senhor chegou a atender? Quais os principais sintomas que as pessoas apresentavam?

Realmente eu não me lembro de quantas pessoas foram atendidas. Não foram muitas, as pessoas acendiam fogueiras na frente das casas para, segundo eles, espantar o “chupa-chupa”. Eles achavam que se estivesse tudo escuro eles poderiam ser atacados. Os sintomas eram ligados ao estresse. Algumas pessoas até mostravam marcas no pescoço que poderiam ter sido causadas por qualquer outra coisa, até picada de inseto. Elas diziam que aquilo era alguma coisa que vinha do céu, mas no céu nós não víamos nada. Víamos pessoas que teriam sido atacadas naquele momento e que ninguém viu nada, só essa pessoa que viu.

O senhor chegou a examinar alguma vítima que possuía ferimentos feitos pelas luzes?

 Não eram “ferimentos feitos pelas luzes”, elas é que diziam isso. Como eu falei antes, a gente via algumas marcas de picada no pescoço, mais nada, e a pessoa muito estressada, com taquicardia.

O senhor tomou conhecimento de algum caso de falecimento decorrente de algum ataque?

Não, acho até que ninguém tomou conhecimento de falecimento de ninguém, nem a imprensa sensacionalista.

O senhor chegou a conversar com algum médico das regiões visitadas pela missão?

Não.

O que estava por trás das reações de estresse demonstradas pelos habitantes daquelas localidades?

Acredito que nessas localidades muito no interior, que tem pouco acesso a informação, uma pessoa relata uma informação e aquilo corre como se fosse uma epidemia, vai passando e todos os outros acabam participando dessa angústia, desse estresse. Isso acho que é muito comum em comunidades muito isoladas.

Quais atividades o senhor desenvolveu durante a missão além da atenção médica? O senhor participou de vigílias observando o céu noturno?

Sim, ficamos lá acordados um bom tempo. Eu devo admitir que teve um determinado horário que eu acabei cochilando, mas a equipe toda ficou acordada a noite inteira. A partir de um determinado horário a gente fez uma escala para que ficasse sempre alguém acordado. Como eu te disse, o máximo que nós vimos foram satélites passando no céu.

O que a equipe militar achava na época? O que se comentava na sede do I COMAR a respeito do aparecimento de luzes no céu e ataques a pessoas no interior do Pará?

Bom, eu não sei te responder essa pergunta. Eu acho que eles achavam a mesma coisa que a gente achava, que aquilo não existia, mas foram lá para checar se realmente existia.

Qual o número estimado de militares que participaram da missão?

Na minha missão não foi muita gente, porque eu lembro que fomos de “Variant” (carro antigo, da montadora Volkswagen), tinha umas cinco ou seis pessoas só.

O senhor se lembra de quais são os militares que participaram da missão que ainda podem ser encontrados?

Não, porque eu tive contato com eles somente naquela missão, depois não tive mais, a não ser o Augusto que eu conhecia, que tivemos contato depois, ele era médico também e a gente trabalhou em outras missões da Aeronáutica; não desse tipo. Mas os outros que eram do setor de inteligência eu realmente não me lembro se tive contato e nem sei se ainda estão vivos ou não.

O senhor teve contato com o coronel Hollanda?

Sim, mas o coronel Hollanda não foi nessa missão, foi um outro coronel que eu não me lembro o nome.

Seria o coronel Camilo Ferraz de Barros?

Exatamente, ele era do setor de inteligência, foi chefe do A2 antes do Hollanda. Na missão foram ele (coronel Camilo Ferraz), talvez um ou dois sargentos, eu e o Augusto. Eu só fui nessa missão. Depois eu soube que tiveram outras missões, mas eu não participei. Então eu não sei nem o que aconteceu, nem os relatórios dessas outras missões.

A permanência da equipe médica nas localidades foi inferior a 24 horas. Qual o motivo do retorno à Belém, foi uma decisão da equipe ou foi uma ordem de algum superior?

A decisão não foi minha. Havia um coronel no comando, como já havíamos passado uma noite lá, ele decidiu que retornaríamos à Belém.

ANÁLISE DO CONTEÚDO APRESENTADO

A partir de agora, dissertaremos sobre o novo contexto da participação da equipe médica militar no âmbito da Operação Prato, após a divulgação das informações inéditas trazidas pelo relatório e entrevista acima apresentados.

Atividades desenvolvidas pela equipe médica militar na Operação Prato

Os relatórios oficiais da Aeronáutica sobre a Operação Prato que já se encontram liberados pelo governo brasileiro mostram que as atividades da equipe médica militar na área afetada pelo fenômeno ocorreram da seguinte maneira:

Primeiramente chegaram ao povoado de Santo Antônio do Ubintuba, pertencente ao município de Vigia/PA, às 15h20min do dia 26 de outubro de 1977, acompanhados do chefe da seção de inteligência do I Comar em Belém (coronel Camilo Ferraz de Barros).

Fonte: Relatório de Missão – Parte Informativa

Às 16h, se deslocaram para um povoado ainda menor que ficava localizado nas proximidades, denominado Vila Nova do Ubintuba, onde mantiveram contato com pessoas que alegaram terem sido atingidas pela “luz”.

Fonte: Arquivo SNI – ACE Nº 3252/83

Às 19h45min, se deslocaram para a ilha de Colares. Durante o trajeto, às 20h05min, os militares operacionais que se encontravam na mesma viatura que a equipe médica, avistaram e registraram a passagem de um meteoro, o que sugere que são altas as chances de que os médicos militares também tenham presenciado essa cena.

Às 21h20min, finalmente chegaram à ilha de Colares. Dez minutos depois, o coronel Camilo e os componentes da equipe médica se deslocaram para uma localidade chamada Pacatuba, localizada no interior da ilha, a poucos quilômetros de distância da sede do município.

Estando a equipe médica já em Colares, um outro militar da equipe operacional que compunha a missão teve contato com a Sra. N. P. A., de 25 anos, que estaria sob “crise nervosa”. Ela alegou que se encontrava com uma irmã menor na cozinha da sua residência lendo um livro de orações, quando observou a claridade (“luz”) já mencionada pelas demais pessoas, sofrendo então a referida crise. O horário registrado para o suposto contato com a luz se deu às 22h15min e, o militar, tão logo possível, fez contato com a equipe médica da Aeronáutica, que realizou o imediato atendimento da possível vítima.

Às 00h15min ocorreu a passagem de uma “luz” a baixa altura, que desapareceu nas proximidades de um pequeno campo de aviação existente na ilha. O relatório ressaltou que os componentes da equipe militar não presenciaram a referida ocorrência, que lhes teria sido noticiada através de populares.

Às 00h35min do dia 27Out77 (menos de 03 horas após os fatos envolvendo a Sra. N. P. A.), a Sra. M. B. L. F., de 42 anos, também foi atendida pela equipe médica militar por, conforme registrado pelos militares operacionais, também se apresentar sob “crise nervosa”. O relatório militar mencionou que a Sra. M. B. alegou que quando se preparava para dormir, pressentiu uma “luminosidade”, conforme já descrito por outras vítimas, de forma que após a presença dessa luminosidade, ela foi acometida pela mencionada crise nervosa. O relatório operacional cita que ela foi “prontamente refeita” (atendida) pela equipe médica.

Às 04h05min do dia 27Out77, populares observaram o deslocamento e uma intensa “luz” ao nível das árvores (não há menção a observação por parte dos médicos militares, mas provavelmente se encontravam repousando).

Às 08h00min do dia 27Out77, se deslocaram para a cidade de Vigia (sede do município) e, às 09h45min, o coronel Camilo contatou o prefeito da cidade.

Por fim, às 09h45min, ocorreu o último registro de participação de médicos militares no âmbito das investigações desse fenômeno, que foi o deslocamento dessa equipe para a localidade de Santo Antônio do Ubintuba onde, em seguida, retornaram para Belém, juntamente com o coronel Camilo.

Análise da estrutura do relatório médico-psiquiatra

A partir deste momento, faremos uma análise minuciosa do documento de título “RELATÓRIO DA MISSÃO MÉDICO-PSIQUIATRA NA OPERAÇÃO PRATO”.

O documento é constituído por 02 (duas) folhas de aspecto antigo e trata-se de uma cópia. Conforme pode ser observado nas proximidades das suas bordas externas, fica evidente que a presente versão foi gerada a partir de folhas já bastante deterioradas, possivelmente também cópias do documento original.

A primeira informação pertence ao timbre do documento. Apesar da ilegibilidade de alguns caracteres, é claramente perceptível que se trata do nome “HOSPITAL DA AERONÁUTICA”. Acima da palavra “HOSPITAL” é possível notar a presença da parte inferior de alguns caracteres que já estavam ausentes no momento da produção da cópia, mas utilizando o nome dessa instituição militar de saúde como referência, é possível prever que se tratasse de conteúdo relacionado aos termos de identificação dessa instituição na condição de remetente do documento, como “MINISTÉRIO DA AERONÁUTICA” (atualmente Comando da Aeronáutica), identificação do COMAR (Comando Aéreo Regional) correspondente, etc.

O maior prejuízo no que tange as informações ausentes em decorrência dos danos nas bordas do documento, principalmente na parte superior das duas folhas, provavelmente se refere a inexistência do local e data em que foi assinado. No entanto, através de um trabalho minucioso, conseguimos nos aproximar dessas informações com uma precisão satisfatória, a partir da pesquisa de outras fontes seguras, conforme será exposto mais adiante.

O próximo campo refere-se ao já citado “RELATÓRIO DA MISSÃO MÉDICO-PSIQUIATRA NA OPERAÇÃO PRATO” que, trata-se do assunto anunciado pelo documento, possuindo, portanto, fundamental importância.

Considerando que a Operação Prato foi dividida em duas missões (1ª Missão: 20/10/1977 a 11/11/1977 e 2ª Missão: 25/11/1977 a 05/12/1977), podemos considerar que o presente relatório foi elaborado próximo a esse período, ou seja, em algum momento dos meses finais do ano de 1977. Já em relação ao local, tendo em vista que essa operação militar foi de iniciativa do I COMAR, sediado em Belém, fica claro que o presente documento foi elaborado através do Hospital da Aeronáutica localizado na própria cidade de Belém/PA.

Em seguida temos um campo informando o objetivo da missão, que era “verificar o estado médico-psicológico das populações examinadas na operação (Prato)”.

Conforme o brilhante sargento João Flávio de Freitas Costa registrou através de um relatório especial referente ao período da primeira missão, o principal objetivo dessa operação militar constou em “esclarecer o que de real existe sobre os aparecimentos e movimentação, em nosso Espaço Aéreo Inferior dos chamados OBJETOS VOADORES NÃO IDENTIFICADOS”. Logo, qualquer informação que pudesse esclarecer a origem dos acontecimentos era válida.

A próxima informação do relatório se refere as localidades nas quais os médicos responsáveis pela elaboração do documento estiveram presentes; neste caso, Santo Antônio do Ubintuba, Colares e Vigia.

Em seguida, temos os dados pessoais dessa equipe médica, que possuíam os seguintes postos militares e nomes:

– 1º Tenente Médico da Aeronáutica, Dr. Pedro Ernesto Póvoa;

– Aspirante-a-oficial Médico da Aeronáutica, Dr. Augusto Sérgio Santos de Almeida (falecido no ano de 2014).

O item seguinte descreve as atividades desenvolvidas por esses profissionais de saúde no âmbito da missão realizada. No curso de suas ações tiveram contato pessoal com vários moradores das áreas atingidas que, alegaram terem sido pessoalmente afetados pelas referidas “luzes”. Essas pessoas declararam apresentar sintomas como distúrbios na fala, paralisia corporal, sensação intensa de calor, etc.

O presente relatório médico-psiquiatra dedica grande parte do seu conteúdo a descrição do atendimento que essa equipe médica da Aeronáutica realizou em duas possíveis vítimas das “luzes”. Os nomes das vítimas não se encontram presentes no documento haja vista que este não possuía finalidade médica, mas sim de segurança pública. Entretanto, comparando-o com os relatórios operacionais da Aeronáutica (documentação de grande volume produzida por militares agentes de campo da Aeronáutica que coletaram e registraram informações diretamente nas localidades afetadas pelo fenômeno), conclui-se que é extremamente provável que se tratam das senhoras N. P. A. e M. B. L. F, já mencionadas acima.

Se por um lado os relatórios operacionais militares foram abrangentes o suficiente para fornecerem importantes informações pessoais sobre essas duas senhoras, por outro, suas condições de saúde após os supostos ataques foram registradas de maneira generalizada, através do uso do termo “crise nervosa”.

O presente relatório médico-psiquiatra indica que essas duas vítimas apresentavam sintomas semelhantes que, foram descritos de maneira detalhada. Aliás, tais registros, na prática representam os únicos diagnósticos médicos individualizados de possíveis vítimas do fenômeno de que se tem conhecimento.

Os doutores Póvoa e Augusto Sérgio compararam o quadro clínico dessas duas vítimas autodeclaradas em particular com, os sintomas descritos pelas demais possíveis vítimas do fenômeno com as quais tiveram contato, onde consideraram que todos esses sintomas compartilhavam da mesma origem, podendo ser explicados como se tratando de reações decorrentes de fatores psicológicos, de maneira que as próprias populações das localidades atingidas seriam as responsáveis pela geração e disseminação do que foi definido por eles como um “clima de histeria coletiva”.

No final da segunda folha há a presença de uma tarja negra de censura, que já estava presente na cópia do documento no momento em que este foi entregue para nossa fonte. O censor objetivou bloquear a visualização das assinaturas dos dois componentes da equipe médica. Um olhar mais atento na superfície da folha possibilita notar que a presença delas não foi efetivamente suprimida pela utilização desse artifício.

Existência ou não de outras equipes médicas militares durante a Operação Prato

Existem diversos relatórios operacionais com registros de ações investigativas da Aeronáutica em relação ao fenômeno, tanto durante o último trimestre de 1977, como também durante um avançado período do ano de 1978. As investigações pós-Operação Prato não possuem um nome próprio como esta primeira, tendo sido mais fragmentadas, mas mesmo assim sempre foram registradas de maneira precisa seguindo padrões militares, o que nos faz concluir que se tivessem existido outras equipes médicas militares, provavelmente essas participações também estariam presentes ao longo desses relatórios; a presença desses profissionais de notório saber não seria ignorada.

É possível observar que nas poucas horas em que os militares operacionais do setor de inteligência da Aeronáutica permaneceram juntos da equipe médica militar, garantindo-lhes suporte, transporte e proteção para a avaliação do quadro clínico da população, se preocuparam em registrar de maneira detalhada como se deu o envolvimento dessa equipe durante a execução dos seus trabalhos nas áreas dos eventos, de forma que apesar da curta permanência, essa equipe médica foi citada de maneira literal pelos relatórios operacionais em nada menos que 07 (sete) oportunidades.

Tudo isso torna necessário que informações referentes a outros médicos militares nos locais dos eventos sejam apresentadas juntas de algum conteúdo capaz de atestar a confiabilidade da sua procedência, haja vista que não se enquadraria nos padrões seguidos.

Fenômeno luminoso

Deve haver cautela no momento de se avaliar o parecer da equipe médica sobre o fenômeno luminoso. Apesar da presença das tais “luzes” não ter sido literalmente negada no relatório, claramente descartaram que aquelas pessoas estivessem sofrendo qualquer tipo de ataque pelos supostos OVNIs, indicando que não acreditavam no fenômeno. O próprio Dr. Póvoa confirmou seu posicionamento através da entrevista.

A questão é que o tempo em que permaneceram nos locais dos eventos foi extremamente pequeno quando comparado ao período de ampla incidência do fenômeno, não tendo superado nem mesmo o período de 24 horas, o que pode ter comprometido as condições para que esses profissionais tivessem a oportunidade de verificarem por si próprios se a presença das tais “luzes” era real ou não. De acordo com o que indicam os registros operacionais, provavelmente o único acontecimento incomum que visualizaram no céu noturno se tratou da presença de um “meteoro” cruzando o céu a baixa altitude, enquanto se deslocavam numa viatura para o município de Colares, após terem avaliado possíveis vítimas na localidade de Santo Antônio do Ubintuba.

A realidade é que a visualização da presença de “luzes”, “objetos luminosos” ou “corpos luminosos” que estariam se movimentando pelos céus noturnos daquelas localidades não foi uma exclusividade das populações das localidades afetadas pelo fenômeno pois, militares da própria equipe operacional da Aeronáutica, que estiveram presentes nas localidades durante um considerável período de tempo, principalmente na ilha de Colares, confirmaram a existência desses avistamentos, ao menos em relação a movimentação de objetos luminosos através dos céus noturnos.

Um já conhecido relatório oficial elaborado pelo sargento João Flávio, militar cuja presença nas localidades foi mais extensa do que a de qualquer outro, afirma que a presença de objetos voadores (não identificados) “luzes” era “patente” (Dicionário Aurélio: claro; evidente), “movimentavam-se em altitudes e direções variadas” e efetuavam “manobras complexas”, indicando que aqueles “corpos e luzes” eram “INTELIGENTEMENTE DIRIGIDOS”. O sargento João Flávio, apesar de não ter se sentido seguro o suficiente para atribuir uma autoria para os responsáveis por trás das tais “luzes”, definitivamente não considerava que o fenômeno se tratava de algo simples como fenômenos atmosféricos ou, aeronaves comerciais convencionais para o transporte de carga ou passageiros.

Já em relação às informações divulgadas de que tais objetos também disparavam raios luminosos contra a população, não há registro de que os militares tenham observado qualquer acontecimento desta natureza, onde apenas colheram testemunhos de pessoas que afirmaram terem sofrido esse tipo de ocorrência. Entretanto, partindo da consistente premissa de que realmente havia objetos luminosos insólitos que se movimentavam de maneira coordenada através do espaço aéreo, não poderia ser descartada a possibilidade de que os responsáveis pela movimentação desses objetos, também pudessem estar executando ações planejadas para interferirem nas condições de saúde dos habitantes daquelas localidades.

Conforme pode ser verificado através da entrevista do Dr. Póvoa, a permanência da equipe médica nas localidades foi de curta duração, pois receberam uma ordem de superior hierárquico para encerrarem a missão. Entretanto, essas poucas horas em que estiveram in loco acompanhando os acontecimentos não os dispensou da obrigação de elaborarem o respectivo relatório que deveria descrever suas atividades e conclusões. Portanto, é compreensível que tenham optado por negar a presença do fenômeno das “luzes”, pelo simples fato de que não viram “luz” alguma.

Sintomas

Os sintomas observados pela equipe médica foram:

– Taquicardia (aumento da frequência cardíaca);

– Abalos musculares (referentes a irregularidades na contração de músculos do corpo);

– Taquisfigmia (pulso rápido e cheio);

– Taquipneia (respiração rápida);

– Crise de choro;

– Sensação de calor;

– Distúrbios da fala (tartamudez/gagueira);

– Atitude fetal (encolhidas na rede; pernas e braços fletidos/flexionados).

Os médicos concluíram que esses sintomas são características de uma descarga de adrenalina, causada porque os indivíduos estavam em uma situação de medo.

O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V) define medo como “ uma resposta emocional a ameaça iminente real ou percebida” (pg. 189). Portanto, os sintomas não necessariamente comprovam que as pessoas foram realmente atacadas pela luz, mas pelo menos indicam que elas se encontravam em uma situação aversiva o suficiente para lhes provocar os sintomas já mencionados.

Não temos um levantamento realizado por nenhuma instituição civil da área da saúde a respeito dos sintomas, número de possíveis vítimas, etc. Futuras pesquisas podem ser realizadas, coletando informações em relatórios militares, jornais e entrevistas, com o objetivo de verificar quais sintomas mais compõem o quadro clínico das vítimas.

Contribuição dos médicos militares para a compreensão do fenômeno

É inegável que devemos reconhecer a grande importância e relevância dos relatos e conclusões da equipe médica militar no que se refere ao quadro de saúde das populações, pois a partir deles passamos a conhecer novos detalhes envolvendo os sintomas das pessoas afetadas pelo fenômeno e, também aperfeiçoamos nossa compreensão sobre o complexo cenário social presente nas localidades afetadas. Eram profissionais competentes e capacitados que, apesar do pouco tempo em que permaneceram nas localidades, tiveram a oportunidade de examinarem diversos habitantes, num momento em que já havia muitas pessoas que se autodeclaravam como vítimas do dito “aparelho” e, apesar de terem observado determinadas marcas na pele de algumas pessoas, conforme detalhado pelo Dr. Póvoa durante a entrevista que nos concedeu, essas poderiam se tratar até mesmo de picadas de insetos, não se tratando portanto de marcas complexas, ao menos em relação ao que ele observou.

Apesar de ser muito provável que o referido “clima de histeria coletiva” identificado pela equipe médica militar talvez não fosse o único responsável pelas inconcebíveis notícias surgidas em meio as regiões afetadas pelo fenômeno, fica claro que esta condição influenciou os habitantes locais, agravando o quadro de tensão existente. Não é possível identificar com precisão a proporção nem quantidade de pessoas cujos relatos e/ou sintomas foram influenciados por esse aspecto, mas é certo que tal interferência ocorreu; um ambiente social envolto por medo e pânico esteve presente durante um período significativo do fenômeno.

Jamais será possível determinar a proporção do benefício que a missão militar poderia ter obtido com uma maior presença da equipe médica composta pelos doutores Pedro Ernesto Póvoa e Augusto Sérgio Santos de Almeida, entretanto, se por um lado o relatório produzido por esses profissionais de saúde não foi capaz de abalar a crença de que a presença das denominadas “luzes” foi real, por outro lado, mostrou que devemos reavaliar a ideia atualmente vigente de que uma enorme quantidade de vítimas permaneceu com sequelas de graves queimaduras após os supostos ataques efetuados pelas referidas “luzes”.

Quando lemos os relatórios produzidos pelos militares operacionais da Aeronáutica, devemos observar que, apesar da existência de referências a extrações de sangue e queimaduras decorrentes de raios emitidos pelo dito “aparelho”, os militares geralmente se limitavam a transcrever as alegações das vítimas, não significando propriamente que estavam atestando ou confirmando aqueles acontecimentos. Até mesmo quando afirmavam existir algum tipo de marca incomum na pele de uma possível vítima, não significava que estavam atestando que tal marca havia sido gerada a partir da ação do dito “aparelho”.

Fonte: Revista Ufo

Por outro lado, uma análise minuciosa nos relatórios militares claramente demonstra que uma quantidade significativa das testemunhas que se autodeclararam vítimas, alegando terem sido atingidas por tal “luz”, proveniente do referido “aparelho”, relataram padrões bastante semelhantes que foram geralmente descritos como se tratando do aparecimento repentino de um objeto voador a baixa altitude (geralmente cilíndrico e com movimentação que apresentava certa irregularidade) que, emitia um “foco” luminoso na direção dos seus corpos, de maneira que após isso, costumavam dizer que sentiram sintomas compatíveis com aqueles descritos pelo relatório médico-psiquiatra em questão.

Além da precariedade dos meios de comunicação das localidades afetadas, grande parte dessas pessoas moravam em locais distantes umas das outras e não se conheciam. Somado a isso, existem casos nos quais as alegações dessas autodeclaradas vítimas eram corroboradas por outras testemunhas, geralmente familiares, que confirmaram a existência do padrão envolvendo os referidos ataques.

Conclusão

Esta matéria traz à tona importantes informações sobre a Operação Prato e o fenômeno que esta buscou investigar. Apesar das vastas informações já existentes sobre o fenômeno, ainda faltam dados mais precisos para uma conclusão exata sobre sua origem, onde devemos continuar a investiga-lo de maneira criteriosa, buscando sua causa através da correta interpretação dos fatos.

Autores do artigo: P.A. Ferreira, Raphael Pinho, Luiz Fernando, Hélio A. R. Aniceto e M.A. Farias.

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