DESCOBERTO MÉDICO QUE ATENDEU EM COLARES DURANTE A OPERAÇÃO PRATO

DR. LUIZ FERNANDO PINTO MARQUES

ENTREVISTA EXCLUSIVA E DOCUMENTO INÉDITO

I – INTRODUÇÃO

A novidade é tão alvissareira que o cerne da notícia deve ser fornecido de início. Não iremos recorrer a introduções longas e misteriosas para atrair o leitor até o fim do artigo ou usar de respeitáveis sofismas, com uma retórica não necessariamente verdadeira, mas apenas em busca do convencimento pelo jogo bem-sucedido das palavras. Antes, acreditamos que depois de tantas descobertas e informações relevantes que a equipe do operacaoprato.com trouxe para a compreensão da histórica Operação Prato e o fenômeno da luz vampira, podemos apresentar essas boas novas contando fluidamente nossas investigações e descobertas. Seguiremos a reflexão do imperador romano Marco Aurélio, o imperador filósofo, que escreveu: “Fala, quer perante o senado, quer diante de qualquer um, com dignidade e de maneira inteiramente direta. Emprega uma linguagem sã.” 1

Estátua de Marco Aurélio no Museu Capitolini, Roma (Foto: Wikimedia Commons)

Seguindo o imperador filósofo, entregamos ao leitor antecipadamente duas importantes afirmações do nosso entrevistado: a primeira é que a presença das luzes foi real, enquanto a outra é que não atendeu durante todo o período da segunda missão, ou além desta, nenhuma pessoa que tenha alegado ter sido vítima do vampiro extraterrestre, o Chupa-chupa.

Apresentamos neste artigo a entrevista que nossa equipe fez com o médico Dr. Luiz Fernando Pinto Marques, atualmente residente em Belém/PA, e que trabalhou prestando atendimento na Unidade Sanitária de Colares durante e após a Operação Prato. Foi testemunha ocular dos fantásticos corpos luminosos relatados pelos militares da Aeronáutica, além de atender a população de Colares durante a Operação Prato, chegando a prestar auxílio médico a um dos agentes secretos da 2ª Seção do I COMAR que, pela descrição que fez dos seus traços fisionômicos, pode se tratar do militar que ficou conhecido pela alcunha de Japonês desde que o coronel Hollanda o citou em entrevista à Revista UFO,2 e do qual desconhecemos a verdadeira identidade.

Dr. Luiz Fernando Pinto Marques em 2018

II – CHEGADA A COLARES

O Dr. Luiz Fernando assumiu a Unidade Sanitária de Colares em novembro de 1977, após a saída da Dra. Wellaide Cecim, sua antecessora na unidade de saúde, declarando na entrevista que residiu em Colares com sua esposa, “mais precisamente de novembro de 77 a março de 83”. Portanto, esteve presente como médico instituído pelo poder público durante uma parte importante do período mais significativo da Operação Prato, desde a chamada Segunda Missão militar do I COMAR, entre 25 de novembro e 05 de dezembro de 1977, até o arrefecimento do fenômeno na região, que ainda contava com alguns aparecimentos nos primeiros meses de 1978, como em 27 de janeiro quando um OVNI circular se aproximou de um pescador,3 ou no dia 22 de fevereiro quando um OVNI em zigue-zague foi observado pelo agente da 2ª Seção Flávio Costa e esposa4.

A onda ufológica em 1978 em muito havia arrefecido. Entre setembro e dezembro de 1977 houve 195 registros entre observações militares e relatos de civis.5 Para o ano inteiro de 1978 caiu para 89. Especificamente para observações em Colares e a baía do Sol envolvendo agentes da 2ª Seção, foram 97 nesse período de 1977 e, 27 para todo o ano de 1978.6  A imprensa refletiu essa realidade, quando em 21 de março de 1978 noticiou sobre o retorno dos OVNIs a Colares, realçando que em 1977 houvera um período de maior incidência.7

Testemunha ocular

Quanto aos OVNIs, o Dr. Luiz Fernando declarou que observou várias vezes luzes multicoloridas em movimentos rápidos, executando manobras em ângulo. Foi testemunha do “pânico total” da população, relatando que se reuniam mulheres e crianças em uma casa das várias da rua e os homens acendiam fogueiras. Questionado sobre as supostas vítimas do Chupa-chupa, disse que não viu nenhum ferimento ou marca, nem mesmo ter atendido tais ocorrências. Segundo nosso entrevistado: “(…) a gente via o Chupa-chupa e…, agressão, nenhuma; eu nunca vi agressão nenhuma do Chupa-chupa”.

Clarificando o cenário da época

As experiências relatadas não deixam dúvidas que o médico também viveu o auge da onda em Colares, a exemplo da Dra. Wellaide, mas, em relação aos supostos ataques a humanos, suas experiências e percepções foram diferentes. Como é notório no caso Chupa-chupa, Wellaide sempre foi a maior e mais gabaritada voz a propagar a versão dos ataques de luzes que queimavam, perfuravam e até matavam suas vítimas.8 Há algumas implicações nessa descoberta que nos permitem detalhar e clarificar o cenário da época, mudando o patamar do conhecimento até hoje estabelecido.

Dra. Wellaide Cecim Carvalho – crédito: Revista UFO

Quando o fenômeno se aproximou da baía de Marajó, pelos idos de setembro de 1977, a Unidade Sanitária de Colares estava aos cuidados da Dra. Wellaide Cecim. Ela vivenciou o início do fenômeno na ilha de Colares e esteve presente quando chegaram os primeiros militares do I COMAR. Nesse período ela concedeu em 31 de outubro um depoimento, que foi gravado, aos agentes da 2ª Seção. Esse testemunho está registrado no relatório militar da missão9 e também em documento inédito que estamos apresentando ao final do artigo.

Fonte: Relatório de Missão – Parte Informativa

Pela linha do tempo apurada em nossa investigação, após o fim dessa primeira missão no dia 11 de novembro, mas, antes do início da segunda missão, ocorreu a saída da doutora e logo após a chegada do doutor Luiz Fernando para assumir o posto. No livro de Daniel Rebisso Giese, Vampiros Extraterrestres na Amazônia, obra de referência para o estudo do fenômeno, temos uma transcrição de entrevista da Dra. Wellaide Cecim concedida ao autor no ano de 1984, onde na página 81 podemos ler:

Autor –   Até que data esses casos continuaram a ser registrados?

WC     –   Mais ou menos pela metade e final de novembro de 1977, os casos se tornaram raros. No dia 11 de novembro, do mesmo ano pedi minha transferência à Secretaria de Saúde para a cidade de Ourém (PA). Ali tratei de duas pessoas que foram queimadas pela luz do Chupa-chupa. A primeira foi um tratorista e a segunda uma senhora dona-de-casa. Isso foi no início de 1978 e de lá não soube de outras ocorrências.

Temos os registros do Diário Oficial do estado do Pará (página 14 da edição nr. 23.840 de 25 de agosto de 1978), que apresentaremos ao final do artigo, tanto da nomeação da Dra. Wellaide para a Unidade Sanitária de Ourém, como da nomeação do Dr. Luiz Fernando para a unidade de Colares, ambas com data de 08 de agosto de 1978. E não foram apenas as nomeações deles, mas muitas outras. Acreditamos que com a mudança do governador do Estado que ocorreu no dia 01 de agosto de 1978, quando assumiu o governador Clóvis Rego, foi necessária uma regularização da situação de muitos médicos na máquina pública, gerando várias nomeações no dia 08 de agosto, mas que refletiriam uma situação estabelecida anteriormente. Essa interpretação atende tanto as declarações de Luiz Fernando, que declarou ter assumido em Colares “precisamente” em novembro de 1977, como de Wellaide, que declarou ter pedido sua transferência para Ourém (PA) no dia 11 de novembro de 1977, se lembrando inclusive de ter tratado duas pessoas naquela localidade no início de 1978. Também estaria alinhada às evidências encontradas na documentação tornada pública oficialmente e na vazada, referentes à operação militar.

Como observamos anteriormente, a presença da Dra. Wellaide é comprovada pelo relatório da primeira missão até a data de 31 de outubro, de maneira que sua presença não foi mais citada até o término dessa missão, em 11 de novembro. Já o relatório da segunda missão, iniciada em 25 de novembro, não informa nenhum ataque do Chupa-chupa; nenhum depoimento dessa natureza é registrado pelos militares, apenas as observações dos corpos luminosos pelos agentes ou depoimentos de civis. Não há entrevista nem registro de contato com nenhum médico. Essa evidência, ou melhor, a falta dela, atende a narrativa do Dr. Luiz Fernando que declarou não ter atendido nenhuma vítima e que o contato com os agentes do I COMAR foi apenas para atendimento médico de um agente ferido por uma arraia.

Esse novo cenário, colocando dois médicos atendendo a população de Colares durante a onda ufológica e no transcorrer da Operação Prato, mas em períodos excludentes, acrescenta mais um testemunho médico à história do fenômeno.

III – AVALIAÇÕES MÉDICAS

Nós do operacaoprato.com trouxemos a público desde que iniciamos nosso trabalho de investigação, três novos testemunhos de médicos e a participação escrita no relatório médico da Operação Prato de um outro médico já falecido, que de uma forma ou de outra tiveram uma interface com pessoas que autodeclararam-se vítimas do Chupa-chupa.

Divulgados até 2017 havia a Dra. Wellaide Cecim e o Dr. Orlando Zoghbi, que a pedido do jornal A Província do Pará, atendeu em Belém três possíveis vítimas da denominada luz vampira, que apresentavam marcas no corpo, durante uma onda de relatos de ataques que surgiram na capital, reverberada pela imprensa.10

Dr. Orlando Zoghbi em 1978

Em junho de 2017 publicamos o Relatório Médico da Operação Prato em conjunto com a entrevista do tenente-coronel médico Dr. Pedro Ernesto Póvoa, médico da Operação Prato que durante a primeira missão, entre 26 e 27 de outubro de 1977, examinou pessoas que alegaram terem sido afetadas por luzes ou raios originários de OVNIs.11 Nesse caso, deve-se acrescentar que a equipe médica da Operação Prato era composta de dois médicos, o Dr. Augusto Sergio Santos de Almeida e o próprio Dr. Póvoa.

Ten Cel Dr. Pedro Ernesto Póvoa

Em dezembro de 2018 publicamos uma entrevista em vídeo com o Dr. Wilton Reis, que examinou supostas vítimas do Chupa-chupa que apresentavam marcas no corpo, na cidade de Belém, sendo que pelo menos uma delas também havia sido examinada pelo Dr. Zoghbi. Dr. Wilton é um franco defensor da hipótese extraterrestre para o fenômeno, se juntando assim à voz da Dra. Wellaide.12 Outra contribuição pelo lado médico da fase Chupa-chupa em Belém, veio através do jornal O Estado do Pará de 17 de novembro de 1977, recentemente rememorada na tese de mestrado de Phillippe Sendas (2017), quando o jornal noticiou sobre uma adolescente que foi levada ao pronto-socorro municipal belenense, apresentando uma história complexa, compatível com outras narrativas ligadas à crença do Chupa-chupa. Os médicos Guataçara e Renato Sandres não constataram nenhum ferimento nem problema clínico, receitando calmante.13

Dr. Wilton Reis em 2018

Hoje temos um cenário médico mais abrangente, mas não menos enigmático. Vejamos um resumo da situação atual.

QUADRO MÉDICO DO FENÔMENO INVESTIGADO PELA OPERAÇÃO PRATO

IV – DOCUMENTO INÉDITO

Também merece atenção especial o testemunho inédito da Dra. Wellaide que estamos disponibilizando ao final desta matéria. O presente material, que foi fornecido para nossa equipe por uma fonte absolutamente idônea que nos solicitou anonimato sobre sua identidade, recebeu este conteúdo pelas mãos do próprio sargento Flávio Costa.

Ela foi entrevistada pelos militares da Aeronáutica em 31 de outubro de 1977, durante o décimo primeiro dia após o início da Operação Prato, e suas declarações foram registradas através de um gravador de voz da marca “Uher”. O sargento Flávio, que é o autor da assinatura localizada na parte inferior do documento, transcreveu um trecho específico do respectivo depoimento, no caso, da leitura em voz alta que a Dra. Wellaide fez de um documento que ao que tudo indica ela própria elaborou. Segundo a própria médica, num primeiro momento ela tinha o objetivo de enviar o respectivo documento para o Secretário de Saúde estadual da época, solicitando assistência por parte daquela Secretaria, mas que não chegou a tomar essa providência para evitar de “cair no ridículo”.

É possível constatar que ela objetivou ler o texto de maneira precisa e contínua, mas, de vez em quando interrompia a leitura para tecer algumas observações aos militares, sobre determinados trechos do documento. Nas ocasiões em que isto ocorreu, o transcritor parentesou os comentários daquela declarante, acrescentando o advérbio latino “sic” ao final de cada observação, de maneira a atestar a literalidade do registro.

Uma multidão de queimados?

Há uma crença amplamente difundida de que a manifestação do fenômeno provocou uma multidão de pessoas feridas em Colares. Durante seu depoimento aos militares, a Dra. Wellaide proferiu o seguinte comentário: os quatro pacientes que eu examinei tinham minúsculos orifícios na pele; a mulher tinha bem acima do seio esquerdo e os três homens, no pescoço, bem em cima da carótida – (sic)”.

Essa observação da Dra. Wellaide tornou-se especialmente esclarecedora por ter sido proferida durante um momento no qual o fenômeno já estava plenamente ativo em Colares e região, desde várias semanas antes.

Chama atenção a referência feita à quantidade de pacientes (quatro) cujos atendimentos estariam relacionados à ação das luzes. Apesar dessa informação já constar em outros relatórios militares, aqui houve um registro literal das suas palavras, e numa conjuntura que denota a concepção de que aquela era a quantidade de pessoas atendidas por ela até aquele momento, o que de fato está em harmonia com todo o conjunto de informações contidas nos demais documentos militares.

Essa informação foi reafirmada pela própria Dra. Wellaide na já citada entrevista que concedeu à Daniel Rebisso, em 1984. Tendo em vista que se tratou de uma entrevista longa, com cerca de 01 hora de duração, Rebisso optou por incluir no seu livro apenas os trechos que julgou mais relevantes.

Recentemente, o ufólogo Edson Boaventura publicou o áudio original e integral dessa entrevista,14 a partir do qual é possível identificar novas informações. No áudio, a Dra. Wellaide faz referência a essas pessoas que ela teria atendido em função dos supostos ataques. Após detalhar os atendimentos que teria prestado a três pacientes, os quais foram definidos por ela como “…O primeiro paciente que eu atendi…”, “…a segunda paciente minha…” e “…A terceira paciente minha…”, respectivamente, a Dra. Wellaide descreve o atendimento que teria prestado a uma senhora com a qual teria alguns laços de amizade, após esta ter alegado que fora atingida pelo Chupa-chupa na região da testa, enquanto tricotava no interior da sua residência. Sobre tal senhora, Wellaide, além de afirmar que “…Essa foi a quarta [paciente]…”, também declarou que tal acontecimento ocorreu já durante a presença da equipe da Aeronáutica — os militares chegaram à ilha no dia 20 de outubro de 1977 —, inclusive citando que a equipe militar também foi chamada às pressas para prestar assistência a essa mesma pessoa.

A substituição da Dra. Wellaide pelo Dr. Luiz Fernando ocorreu pouco tempo depois do depoimento dela para os militares, ao que tudo indica por volta de meados de novembro de 1977, inexistindo qualquer indício documental ou testemunhal de que nesse curto período de tempo, entre a tomada do seu depoimento e a chegada do médico substituto, tenha havido qualquer aumento relevante da atividade do fenômeno.

V – CONCLUSÃO

Há duas questões de fundo neste artigo. A primeira é a confirmação da realidade dos eventos aéreos anômalos por testemunha com formação científica, ou seja, mais outra peça que se soma à assombrosa coletânea de documentos e testemunhos que, um após o outro, atestam a veracidade do fenômeno aéreo, luminoso e não identificado, sendo, sem dúvida, o maior evento da ufologia mundial até hoje. A outra questão é a realidade ou não de terem ocorrido ataques para a realização de procedimentos científicos alienígenas, visando a retirada de fluidos ou tecidos corporais de humanos. Quanto a esse aspecto do fenômeno, tomando como base o conjunto de informações tornadas públicas até o presente momento, não podemos fazer a mesma afirmação de que existe uma soma de documentos e testemunhos que o reforcem.

A existência de informações conflitantes é uma constatação evidenciada em documentos e testemunhos, que pelo lado médico, mas não só, é externada pelos dois médicos militares, Dr. Póvoa e Dr. Almeida, através do relatório médico oficial da Operação Prato e novamente pelo Dr. Póvoa na sua entrevista de 2017 e, por um dos médicos que atendeu a população de Colares, no caso, nosso entrevistado Dr. Luiz Fernando. Pela onda de Belém, não investigada pelo I COMAR, temos o Dr. Zoghbi que em artigo publicado no jornal A Província do Pará em 1977, manifestou opinião contrária à hipótese do vampirismo extraterrestre.

Nós do operacaoprato.com não estamos aqui para substituir a análise crítica sobre a real existência de extraterrestres coletores de sangue durante a onda Chupa-chupa, que cada leitor deve fazer. Trazemos as informações que descobrimos e procuramos fazer análises comparativas entre documentos e narrativas, bem como da veracidade do material apresentado. É o que temos feito nos vários artigos e descobertas que divulgamos. Citamos entrevistas e documentos no texto e recomendamos que os leitores também os leiam ou revisitem.

Neste artigo em especial, pela sensibilidade que desperta no público amante da ufologia a questão dos queimados e vampirizados, mais especificamente, quando novas informações não confirmam as expectativas, evitamos a sofística que produziria um raciocínio tendencioso, pois pela própria natureza dessa escola filosófica, não estaríamos preocupados com a verdade, mas apenas em convencer o leitor.

ENTREVISTA TRANSCRITA

Entrevistado: Dr. Luiz Fernando Pinto Marques;

Data: Abril de 2018;

Meio de registro original da entrevista: Áudio obtido a partir de aparelho gravador de voz;

Local: Belém/PA.

INÍCIO

OP: O senhor já atuou em Colares como médico? Qual a unidade de saúde? Em caso positivo, qual o período de tempo que o senhor atuou lá?

Dr. Luiz Fernando: Bom, eu…, o primeiro período que eu passei lá foi de 77 (1977) a 83 (1983), mais precisamente de novembro de 77 a março de 83. Foi o período do “Chupa-chupa”. Vim pra cá pra Belém, passei uns cinco, seis anos aqui, aí me convenceram pra mim me meter em política lá, eu me candidatei a vereador, aí ganhei, aí voltei, e passei mais cinco anos lá.

OP: Lá em Colares?

Dr. Luiz Fernando: Sim. Então, ao todo, dá em torno de dez, doze anos.

OP: E nesse período de tempo, o senhor chegou a atender alguma pessoa que alegou ter sido vítima do chamado “Chupa-chupa”?

Dr. Luiz Fernando: Não.

OP: Nenhuma?

Dr. Luiz Fernando: Não.

OP: E o senhor ficou sabendo de alguma ocorrência desse tipo?

Dr. Luiz Fernando: Claro que sei. Sei e conheço as pessoas que tão lá vivas até hoje, mas eu não atendi ninguém.

OP: O senhor chegou a ver algum ferimento ou marca na pele de pessoas que se diziam terem sido atingidas?

Dr. Luiz Fernando: Também não.

OP: O senhor tomou conhecimento de algum falecimento decorrente desse tipo de “ataque”?

Dr. Luiz Fernando: Não.

OP: A população que na época o senhor atendia, no geral, esboçava alguma reação em relação a esses objetos?

Dr. Luiz Fernando: A cidade vivia em pânico, pânico total. Quando escurecia, todo mundo se preparava para receber o “Chupa-chupa”. Mas eu…, a gente via o “Chupa-chupa” e…, agressão, nenhuma; eu nunca vi agressão nenhuma do “Chupa-chupa”. Eu me preparava pra ver por curiosidade. Agora, que tinha um pânico na cidade, tinha, disso não resta a menor dúvida. Inclusive, como as casas [eram] poucas lá, eles (população) pegavam e se reuniam em um quarteirão que tinha cinco, seis casas, eles pegavam uma casa e colocavam mulher e criança, e as outras ficavam os homens rodando pela rua, as ruas cheias de fogueira porque a luz era de seis da tarde às nove da noite, a luz ia embora e a iluminação da rua ficava através de fogueira, e cada um com a sua espingarda, lá, esperando o “Chupa-chupa”, mas, eu não tomei nunca conhecimento de alguma agressão, de nada.

OP: O senhor chegou a ver esse objeto voador?

Dr. Luiz Fernando: Vi, várias vezes.

OP: O senhor poderia descrever ele?

Dr. Luiz Fernando: É simplesmente uma luz.

OP: Qual a forma que ele tinha?

Dr. Luiz Fernando: O que eu vi foi facho de luz, com movimentos muito rápidos, entendeste?

OP: Ele tinha alguma cor?

Dr. Luiz Fernando: Ah, multicor… multicolorido.

OP: E que tipo de manobra ele fazia?

Dr. Luiz Fernando: Tudo que tu imaginas. Ângulo de 360 graus…, rodava em torno dos raios de luz; só isso que nós vimos. Agora, nós temos depoimentos de pessoas…, por exemplo, uma vez um cara lá digno de confiança, ele me disse assim: [simulação de fala] Doutor, eu acho que perto… [entrevistado] Tu conheces lá, não é? Tem um farol perto, na beira da praia lá…, olha a ideia do nativo de lá: [simulação de fala] (…) eu acho que perto do farol tem um “posto de gasolina”, porque a gente vê várias vezes o “Chupa-chupa” parado, a dois metros da flor da água”. [entrevistado] Eu acho que eles achavam que “ele” (OVNI) tava pegando “gasolina” pra colocar nos outros (OVNIs). E é a ideia deste (nativo). Então, eles viam, mas eu nunca tive essa felicidade; eu só vi no alto. E ainda teve aquilo que eu te falei também, uma coisa que eu achava impressionante, é que os cachorros percebiam quando “ele” ia aparecer. Porque antes que a gente tivesse visto, os cachorros já tavam por toda a cidade latindo. Inclusive, às vezes a gente tava dentro de casa, e quando a gente via os cachorros latir a gente ia pra rua e a gente via o “Chupa-chupa” lá. É uma coisa interessante, não é?

OP: O senhor teve conhecimento que ocorreu uma operação militar que investigava esses acontecimentos?

Dr. Luiz Fernando: Com certeza; eu atendi.

OP: O senhor chegou a ter algum tipo de contato com esses militares?

Dr. Luiz Fernando: Tive.

OP: O senhor poderia descrever qual o tipo?

Dr. Luiz Fernando:  Tive. Eu estava um dia lá, eu estava na casa do médico…, que como o Brasil é um país que “valoriza” muito a medicina, entre aspas, eu morava com a minha mulher num grupo abandonado por ameaça de desmoronamento. Então, eles receberam um casal de médico e dentista, e ficou lá, e afastado da cidade. E a luz apagava às nove horas da noite. E quando eu…, foi logo que eu cheguei lá, eu não conhecia direito a população, eles (militares) chegaram lá, perguntando se eu era médico. Eu disse: “–Sim”. [simulação de fala] Porque um companheiro nosso foi ferroado de arraia. [entrevistado] Mas eu olhei o aspecto deles, totalmente diferente dos nativos.

OP: Eles estavam uniformizados?

Dr. Luiz Fernando: Não, não… roupa normal. Tinha um de fisionomia oriental que tinham três fiapos de barba que saía do queixo dele, até a barriga. Tive lá com esse pessoal, mas, ele estava sangrando… “Vamos lá…”.

OP: Qual deles estava sangrando?

Dr. Luiz Fernando: Um militar…, um dos militares. Porque nesse tempo era posto de saúde e não funcionava 24 horas; quando dava sete horas (noite) ele fechava. Mas eu era o diretor e eu ficava com a chave. Aí eles queriam que eu embarcasse no carro deles, aí eu disse: “–Não, eu não vou entrar no carro de vocês. Eu e a minha mulher entrar num carro com seis homens?”. Não conhecia. Nove horas da noite lá era o mesmo que ser três horas da manhã. Eu disse: “–Vamos que eu vou andando”. Aí eu cheguei lá, eu fui atender o cara. Quando ele tirou…, ele tava de tênis, a unha do pé pintada, eu digo: “Ah não, ‘isso’ não é daqui, tem alguma coisa estranha”. Bom, eu atendi (militar ferido), e aí eu pedi a identidade dele para fazer o registro. Ele disse que não tinha identidade. Aí quando foi de manhã eu comentei com o pessoal e foi quando que eu soube: [simulação de fala] Não, doutor, isso aí é o pessoal da Aeronáutica que tá fazendo aqui pesquisa sobre o “Chupa-chupa”. Eu digo: “–É, eu notei que não era gente daqui da terra”. Mas, normal, normal…, só não se abriram, só não disseram que eram da Aeronáutica. Mas me trataram com toda a educação, todo o respeito. Entendeste?

OP: E o senhor recorda nomes, o nome dele?

Dr. Luiz Fernando: Não, não… Eu só recordo do comandante Hollanda, que comandava…, que depois se matou enforcado, não é?

OP: Sim.

Dr. Luiz Fernando: Que dizem que foi, que dizem que é obra do “Chupa-chupa”.

OP: E esse de aspecto oriental, o senhor lembra o nome dele?

Dr. Luiz Fernando: Não, não me lembro.

OP: Em algum momento eles comentaram que eles estavam lá por causa dessa operação?

Dr. Luiz Fernando: Nunca, nunca… E inclusive eles só apareciam à noite; eles não circulavam de dia, entendeste? Eles só circulavam quando a luz apagava, porque aí eles iam pra cima do mercado, entendeste? Ou então lá pro farol, pra ficar filmando. Só depois que a luz apagava.

OP: E eles, como não comentaram nada, eles chegaram a pedir alguma informação pro senhor, a respeito de casos?

Dr. Luiz Fernando: Não, nunca.

OP: Nesse período que o senhor esteve lá em Colares, foi possível observar, identificar, o momento que esses OVNIs pararam de aparecer?

Dr. Luiz Fernando: Não houve assim, [uma] “parada”, foi diminuindo a incidência. Diminuindo, diminuindo…, entendeste? Não houve assim, uma parada brusca, foi diminuindo a incidência do aparecimento, tal e tal, até que se deixou de falar dele. Mas até hoje se fala, não é? Inclusive tão lá, um deles que foi “atacado”, é muito meu amigo.

OP: Quem seria?

Dr. Luiz Fernando: O “Tenente” (apelido do Sr. Newton de Oliveira Cardoso).

OP: Tenente, não é?

Dr. Luiz Fernando: Tenente.

OP: Esse é o apelido dele, Tenente, não é?

Dr. Luiz Fernando: É. O nome dele é…, eu só o chamo de “Tenente”, pra ele.

OP: O senhor tomou conhecimento de algum registro dos casos dessas pessoas que se diziam atacadas? Se a unidade de saúde registrava ou documentava?

Dr. Luiz Fernando: Olha, porque foi no tempo da Wellaide (Dra. Wellaide Cecim) que houve esses “ataques”. Eu não sei se ela registrou. Eu nunca vi registro nenhum lá.

OP: Nem na unidade de saúde, nem a nível estadual mesmo, não teve nenhum informe?…

Dr. Luiz Fernando: Não.

OP: Esses casos eram considerados algum tipo de epidemia?…

Dr. Luiz Fernando: Não.

OP: Era algo que estava evidente que estava acontecendo, ou eram casos esparsos?

Dr. Luiz Fernando: Acontecia sim, isso não tem a menor dúvida. Eu vi coisas bem estranhas mesmo; só não vi agressão à pessoa humana.

OP: Certo , Doutor. Eram essas as perguntas que eu tinha para fazer ao senhor.

DOCUMENTOS

1- EXTRATO DE GRAVAÇÃO

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2- DIÁRIO OFICIAL DO PARÁ – 25 DE AGOSTO DE 1978

1 Grimal, Pierre. Marco Aurélio – O Imperador Filósofo. Zahar, Rio de Janeiro, 2018.

2 Equipe UFO. Coronel rompe silêncio sobre UFOS. Revista UFO 54, outubro 1997. 

3 I COMAR. Registro número 87: Registros de Observações de OVNI. Arquivo Nacional BR DFANBSB ARX 0.0.184. 

4 I COMAR. Registro número 93: Registros de Observações de OVNI. Arquivo Nacional BR DFANBSB ARX 0.0.184. 

5 Aniceto, Hélio. Observações e Relatos 1977 Operação Prato. Orbitador (blog), agosto 2014.

Aniceto, Hélio. Corpos Luminosos – Uma operação em busca de respostas, pág. 143. Niterói, 2014.

7 A Estranha Luz está de Volta a Colares. O Estado do Pará, caderno Cidades. Belém, março 1978.

8  A. J. Gevaerd. Não cedi às pressões dos militares. Revista UFO 117, dezembro 2005.

9 Documentos inéditos: Relatório Legíveis da Operação Prato, versão inédita Relatório 01, pág. 7. Site operacaoprato.com, setembro 2017.

10 “Chupa-chupa” é Só Fantasia. A Província do Pará, pág. 16. Belém, novembro 1977.

11 Relatório Médico Inédito da Operação Prato e Entrevista Exclusiva. Site operacaoprato.com, junho 2017.

12 Entrevista exclusiva com Icônica Vítima Declarada do Chupa-Chupa. Site operacaoprato.com, dezembro 2018.

13 Fernandes, Phillippe Sendas de Paula (2017). Luzes Misteriosas Cruzam Os Céus da Amazônia (PDF) (Tese). Rio de Janeiro, RJ: Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola de Comunicação.

14 Canal Enigmas e Mistérios. Detalhes dos ataques revelados pela médica | Operação Prato. 2020. Disponível em: <https://youtube.com/watch?v=8MUjgZmBq0Y&feature=youtu.be>. Acesso em: 04 jun. 2020.

Autores do artigo: Luiz Fernando, P.A. Ferreira, Raphael Pinho, Hélio A. R. Aniceto e M.A. Farias.

2 Comentários

  1. Pouco a pouco, as pessoas da OP remanescentes estão aparecendo. Se os pesquisadores que se dizem “experts” desse evento (muito deles sem conhecer a geografia de fato dos locais dos acontecimentos) se ativessem aos detalhes e feito pesquisas indo aos LOCAIS DO OCORRIDO como tbm entrevistado as pessoas que dele participaram, creio que este VERDADEIRO INQUÉRITO já estava em grande parte elucidado. Vi ao contrário, q estes “experts” impuseram seu juízo de valor (OPINIÂO) sem se ater aos fatos e por isso temos este mistério insolúvel, além do q deixaram precluir as coisas (perderam o “timing”) e passou-se muitas oportunidades de obter muitos relatos. Parabéns a esta equipe, que estão fazendo o “job” de muy dito especialistas.

    Obs: lembrando que um inquérito é uma investigação de natureza juridíca/inqusitiva que têm por finalidade esclarecer um fato a luz de uma VERDADE. E todo inquérito têm RIQUEZA DE DETALHES e é isto q a OP fez. Lastimável q muitos pesquisadores não entendam assim.

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